Extraído do
Texto: Rafael Conrado Bührer (baixo, voz do Sonora Coisa)
Vou ser extremamente prático, porque a história que segue abaixo é muito, mas
muito melhor do que qualquer coisa que eu possa vir a escrever, ou melhor, pera
aí.....ah deixa quieto.....
O TBTCI só quer dizer que Sonora Coisa é
foda, ok e eu me encho de orgulho em publicar algo tão soberbo e cheio de
emoção, por essas e outras que o TBTCI segue em frente....
Vida longa ao Sonora Coisa!!!!
Sonora Coisa - EP - Track by
Track
"Imagine cinco garotos que nunca tinham entrado em um estúdio
para gravar, não sabiam nada sobre metrônomo, nem pista, nem qualquer coisa
próxima do que é “gravação por canal”. Tínhamos gravado demos com uma câmera
simples, captado o áudio ao vivo, e isso era o mais próximo de uma gravação que
chegamos. Mas tudo aconteceu muito rápido. Nossas demos foram parar nos ouvidos
de um dos melhores produtores musicais do mundo, conhecido por ter feito Galaxie
500, Low, Codeine, Daniel Johnston, entre outras pérolas, e as coisas ficaram sérias
para nós...
“Procurem uma gravadora”, ele disse. Foi o que fizemos. De 3
para as quais mandamos material, 2 responderam. Fechamos com a Pisces. Agora
precisávamos gravar. Kramer, Pisces, 3 músicas demo mal gravadas no myspace, e o
estúdio mais barato da cidade era o local para onde íamos agora.
Foram 3
dias gravando as 5 musicas do EP, mais 4 mixando. O homem por trás da mesa não
sabia o que significava “lo-fi”, “shoegaze”, “guitar”, não entendia o nosso
som, mas seguimos em frente. Foram 400 reais, dias legais, empolgação, frio na
barriga, e aprendizado. Depois de gravadas, as faixas seguiriam para a Flórida,
para serem masterizadas pelo Kramer. Ouvindo agora, sentimos cada pedaço do que
foi tudo isso, em cada faixa está o que éramos e para onde evoluímos, ficou uma
parte de nós nestas 5 musicas. E para sempre..."

1-PICTURE BOOK
Era a música mais nova naquele momento. Gravamos tudo com
uma Les Paul meio quebrada, uma Telecaster tbm quebrada, 2 baixos e a bateria do
estúdio. Sem efeitos, era o esqueleto de uma música “indie dançante”, ou o mais
perto disso que podíamos chegar. Não sei qual foi a referencia aqui, como tudo o
que compusemos, ela simplesmente veio. Tem 3 partes simples, o refrão com uma
nota só no baixo, uma repetição monótona que me faz lembrar Beat Happening.
Talvez tenha sido a referencia. Não lembro muito bem. A letra veio do fato do
Afonso, nosso guitarrista, reclamar de letras depressivas. Então tentei escrever
algo sobre o fim da depressão. Soa alegre/triste, começa com a linha marcante do
baixo, entram as guitarras, entra a letra, ela segue e termina como começou. Mr.
Kramer fez um bom trabalho nela, colocando os instrumentos no lugar certo.
Começa o EP de um jeito legal, e é a mais diferente do resto.
2-JUMPER
BOYS
Essa foi a primeira que fizemos. Tudo nela está errado, o cara do
estúdio não entendia o que estávamos fazendo. Ela tem as guitarras cada uma em
uma afinação, é tudo fora do lugar, soa muito estranha, mas essa era a intenção.
Depois de ouvir umas 3 vezes ela passa a fazer sentido. A letra é sobre
traficantes, e sobre não ligar para o que acontece ao nosso redor, sobre
descaso. É algo irônico, e a música segue toda errada, como o tema. A bateria
soa meio punk, ela segue como uma tentativa de fazer um punk rock fora do lugar.
É a favorita do Kramer, é a que entrou na coletânea UV, é talvez nossa musica
mais estranha. Gostamos dela por isso.
3- ACROSS THE ACRES
Uma das
faixas instrumentais. Surgiu num ensaio, gostamos das guitarras e ficamos com
ela. O legal é a parada no meio, fica só a bateria, volta o baixo e ela estoura
com a entrada da guitarra. Deu um efeito legal. A gravação pegou os deslizes da
guitarra, ela tem um rifezinho no refrão que parece um teclado, o Kramer soube
manusear isso e deixar ela grandiosa. Gravamos ela no acústico da radio Mundo
Livre, ficou legal com violões.
4-REVERSE 33 RPM
É a musica que
fecha nossos shows, nós sempre alongamos ela ao vivo. É uma barulheira
desgraçada inspirada em Sonic Youth, com os versos em acorde,e o refrão é uma
cacofonia com o nome da musica sendo repetido até perder a voz. Quando gravamos,
ela não funcionou com 2 guitarras apenas, as cacofonias ficavam sem peso, então
gravamos 4 guitarras no refrão, para ficar parecida com o que ela soa ao vivo. A
letra fala sobre estarmos cansados de mesmice na musica, sobre experimentar sem
medo e fazer musica por prazer. É um chamado de guerra para a nossa “daydream
nation”, essa geração acomodada e sem sal que estamos vendo
atualmente.
5-FIREWORKS
Faixa instrumental. Calma, é a parte
tranqüila do que somos. Foi uma das primeiras a ficarem prontas, sempre gostamos
de tocar, é uma das favoritas do pessoal que nos acompanha. Foi a primeira faixa
pronta que disponibilizamos para ser ouvida. Gostamos muito do resultado final
dela, é uma musica onde tudo se completa, onde todos os instrumentos se encaixam
perfeitamente para invocar a coda que é a parte mais explosiva da música.
Dedicamos ela ao nosso pai (meu e do Afonso, guitarrista) que faleceu pouco
antes de formarmos a banda. É uma música bela e introspectiva, com influencia de
post-rock, que não precisa de palavras para dizer tudo o que sente. Fecha o EP de
maneira bonita, depois de tanto barulho. E que venha a próxima gravação!
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Valeu, Rafael
https://www.facebook.com/pages/Sonora-Coisa/180031492051202http://soundcloud.com/sonora-coisa